O MUNDO EVANGÉLICO precisar estar no centro do debate público e da epidemia do coronavírus no Brasil. Os evangélicos relativizam mais a gravidade da covid-19 e aprovam mais o governo Bolsonaro do que a média da população, conforme uma pesquisa recente do Datafolha. Esse segmento religioso deve superar o católico nos próximos anos, segundo estimativas do IBGE.
O maior desafio desse debate sobre religião e política talvez seja apontar os efeitos perversos causados pela ganância de alguns pastores sem que isso caia na narrativa generalizante e preconceituosa que demoniza todo um universo evangélico, que é plural e que tem suas próprias disputas políticas internas.
Nos últimos dias, pastores como Edir Macedo e Silas Malafaia têm feito um grande desserviço ao combate da epidemia, colocando-se contra o isolamento social e temendo o esvaziamento das igrejas, que é fonte de arrecadação de dízimo e também de formação de coesão social. Mais do que isso, multiplicam-se memes e vídeos no WhatsApp de pastores charlatões, dizendo que quem tem fé está imune, que a epidemia é coisa de satã, uma vingança divina. Também há aqueles que oferecem receitas de cura.
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Para além de sua base, Malafaia e sua trupe da bancada evangélica têm feito lobby com Bolsonaro, que acena cada vez mais para esse setor, violando constantemente os dispositivos constitucionais do estado laico. O presidente inclusive decretou que as igrejas não deveriam ser fechadas, classificando-as como um serviço essencial.
Bolsonaro se conecta com os crentes de forma muito potente quando diz, no Programa do Ratinho, que a igreja às vezes é a única coisa que as pessoas têm. Ele também pediu jejum nacional para combater o vírus com a fé. Em grupos bolsonaristas mais fanáticos do WhatsApp, Bolsonaro aparece em memes como salvador não apenas do Brasil, mas da humanidade. Tudo isso enquanto nega, desafia e deturpa a ciência em um dos momentos mais crítico da história do país.
A conexão com o crente é fundamental para Bolsonaro se manter no poder. Enquanto ele conseguir isso, sua base será fortalecida e, provavelmente, maior. As igrejas evangélicas, neste momento de crise, se colocam como uma alternativa para as populações mais vulneráveis, oferecendo tanto conforto emocional quanto ajuda assistencial.
Nos últimos dias, coletivos e ONGs têm distribuído cestas básicas em bairros periféricos no Brasil todo. Mas dificilmente chegam perto da operação de guerra, totalmente espetacularizada por meio de imagens de ajuda humanitária, montada pela Igreja Universal. Eles marcam presença e se vendem como aqueles que estariam, de fato, atuando na base social. Quanto maior a crise, mais as pessoas precisam da Igreja e mais se alinham a Bolsonaro.